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“AINDA ESTOU AQUI” – Crítica

 
         

A HISTÓRIA – Brasil, 1971: um país sob o domínio cada vez maior de uma ditadura militar. Uma mãe é forçada a se reinventar quando a vida de sua família é destruída por um ato de violência arbitrária.

O ELENCO – Fernanda Torres, Selton Mello & Fernanda Montenegro

A EQUIPE – Walter Salles (Diretor), Murilo Hauser e Heitor Lorega (Roteiristas)

O TEMPO DE EXECUÇÃO – 135 minutos


O que você faz quando sua vida inteira muda em um dia? Quando o lar seguro e amoroso que você construiu desmorona porque uma ditadura militar decide tirar tudo? Eunice Paiva, esposa do ex-deputado do Partido Trabalhista Brasileiro Rubens Paiva, fez do trabalho de sua vida fazer justiça para sua família e seu marido, que foi preso e nunca mais visto ou ouvido em 1971. A história da família Paiva ganha vida no comovente drama político de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui”, que foca na dor emocional e no trauma que a Ditadura Militar Brasileira infligiu a esta família, e muito menos a milhares de outras. Estima-se que 434 pessoas foram confirmadas mortas ou desaparecidas e que 20.000 pessoas foram torturadas entre 1964 e 1985. “Ainda Estou Aqui” é uma história sobre força e resiliência – adaptada do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva – ancorada por uma atuação maravilhosa de Fernanda Torres, que ajuda a revigorar o filme quando ele é mais necessário.

Situada no Rio de Janeiro no início dos anos 1970, esta cidade linda, tropical e montanhosa é o local de muitas coisas cruéis e feias escondidas à vista de todos. Dias relaxantes de praia são interrompidos pelos sons de comboios militares e helicópteros passando. Os cidadãos são regularmente parados e interrogados em suas viagens noturnas para casa, mesmo que não tenham feito nada de errado. Às vezes, essa é a última vez que as pessoas os veem.

Mas a família Paiva, composta pelo pai Rubens (Selton Mello), a mãe Eunice (Torres) e seus cinco filhos, faz o que pode para manter a vida o mais normal possível em sua casa de praia brilhante e bonita. O imenso amor compartilhado entre todos eles é sentido em cada canto da casa, mesmo quando a segurança é mais desafiadora de encontrar ao redor deles. Em uma casa cheia de crianças pequenas, Rubens e Eunice mantêm as conversas sobre os tempos assustadores no mínimo, e eles chegam ao ponto de permitir que sua filha mais velha Veroca (Valentina Herszage) vá para Londres com amigos da família para que ela possa experimentar a vida sem medo.

 
         

Mas um dia de janeiro muda suas vidas para sempre quando vários homens aparecem em sua casa e pedem para Rubens “fazer um depoimento”. Sem que todos saibam, é a última vez que o verão, pois ele foi colocado em uma lista de procurados por associação com comunistas. A presença dos homens é grande na casa da família, especialmente quando eles fecham todas as cortinas lá dentro, e seus rostos ficam obstruídos pela escuridão. No entanto, isso é apenas o começo das coisas assustadoras que esta família experimentará.

Enquanto Eunice e uma de suas filhas também são levadas para interrogatório, o cenário reconfortante de sua casa aconchegante é substituído pelas visões e sons escuros, sujos e assustadores de um centro de interrogatório militar. A matriarca elegante e bem-arrumada parece uma bagunça e como se não dormisse há dias – o que não é exagero, já que ela é interrogada por dias a fio, sem saber se seu marido ou filha estão bem ou o que está acontecendo em casa. Os sons horríveis de gritos e espancamentos na prisão causam arrepios na espinha, tornando a situação ainda mais um pesadelo vivo do que já é.

Mas essas injustiças só alimentam a busca de Eunice para trazer seu marido para casa – ou, pelo menos, provar que o governo foi responsável por sua prisão e desaparecimento. Neste filme, Torres lidera a acusação emocionalmente, colocando uma fachada estoica para seus filhos e seus amigos mais próximos, então deixando as lágrimas fluírem em momentos solitários. É de partir o coração ver e ainda mais devastador saber que tudo é baseado em eventos reais. Torres revigora e faz essas cenas porque, sem ela, não há muita ação para ver. Eunice tem conversas a portas fechadas com seu advogado e amigo jornalista, e ela pede um depoimento de uma mulher que foi presa com Rubens para que ela possa ter provas de sua detenção, e é mais ou menos isso. Sem mencionar o fato de que o filme continua infinitamente pulando para o futuro duas vezes. A primeira tem uma conclusão gratificante, mas em vez de terminar o filme ali, Salles continua com outro salto no tempo, que é muito menos satisfatório.

No geral, “I'm Still Here” é um drama comovente que lança luz sobre um capítulo horrível da história do Brasil. Quer alguém tenha ou não conexões com esse período terrível, os espectadores gravitarão em torno da história dessa família corajosa e, em particular, sentirão os pontos fortes de Eunice, tudo graças ao trabalho de Torres. Esta é apenas uma história, e inúmeras outras como esta existem por todo o Brasil e outros países da América do Sul. Que todas as famílias que perderam entes queridos em atos impensáveis ​​de crueldade encontrem justiça um dia.

 
         

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