Acontece aos Melhores. Júlia perdeu a vivenda por razão de um colchão que não era seu
Júlia Costa garante que não fez a leito onde se deitou. Perdeu a vivenda por razão de um colchão. Um caso que começou há mais de 20 anos, na pequena freguesia de Fratel. Se tem um problema que também não consegue resolver, conte-nos a sua história para o e-mail aconteceaosmelhores@tvi.pt
O caso remonta a 2003, quando a mana de Júlia Costa a convenceu a ir até à sociedade na freguesia de Fratel, concelho de Vila Velha de Ródão. No espaço estavam expostos colchões e outros artigos para venda e quem visitava o lugar era instado a comprar um pouco.
Júlia decidiu comprar um colchão e a mana outro, cada um a custar 1500€.
“A senhora que estava a vender os colchões disse: ‘você tem de assinar pela sua mana porque a sua mana já não tem idade para assinar e você tem de assinar por ela'”, conta Júlia à equipa de reportagem do Acontece aos Melhores.
Com uma assinatura, Júlia ficou responsável pelo dispêndio do colchão da mana. No entanto, as duas fizeram um conciliação verbal em que a mana de Júlia lhe daria o quantia para colocar no Multibanco, já que não o saberia usar, e, desta forma, remunerar o valor do colchão.
Só que esta mulher de 78 anos garante que a mana nunca lhe pagou e, entretanto, morreu. Quem não faleceu foi a dívida da mana pela qual esta mulher se responsabilizou. E é cá que tudo se complica.
“As pessoas têm de ter consciência de que uma fiança é um ato de grande responsabilidade, mediante o qual as pessoas aceitam remunerar uma dívida pela integralidade mais juros, mais taxas de justiça”, diz a advogada Rita Garcia Pereira.
Talvez Júlia não tenha tido a consciência necessária, mas diz que fez tudo com a melhor das intenções para ajudar a mana que só queria um colchão – aparentemente último grito do mercado.
Com os cobradores a teimar para que a dívida fosse paga, resolveu conversar com os sobrinhos, que prontamente responderam que não pagariam zero.
“A tia é que está agora com essas coisas a proferir que o colchão era minha mãe”, terá dito um dos sobrinhos.
“No final do ano de 2018, princípios de 2019, é que o marido da Júlia disse mesmo ao visível o que é que se estava a passar e que eles [cobradores] não paravam de mandar cartas ou telefonar ou uma coisa qualquer a proferir que ainda devia muito quantia e já estavam fartos de remunerar porque era a reforma deles que ia toda para eles e eles praticamente ficavam sem quantia para manducar”, relata Margarida Pinto, amiga do parelha.
O marido de Júlia morreu em 2019 e, por essa profundidade, o ponto terá ficado suspenso, mas um ano depois a viúva recebeu uma epístola de uma empresa de gestão de crédito malparado a cobrar uma dívida de 5.038€.
“Disseram que me iam pôr a vivenda em leilão”, conta.
“Existe um princípio de proporcionalidade nas penhoras, isto é, não podemos ir logo penhorar o que temos de mais valor se pudermos receber a dívida com outros bens, salários, pensões. Mas se não houver mais zero, o único muito que existe é que vai ser penhorado”, esclarece Rita Garcia Pereira.
E a verdade é que a vivenda era o único muito que Júlia Costa tinha e, por isso, a habitação acabou por ser vendida a uma empresa da Mealhada no início de 2022. A 10 de maio do mesmo ano aconteceu o pior: uma agente de realização bateu à porta acompanhada de dois agentes da mando.
“Acho que eles deviam ter feito de outra maneira. Sabem que é uma senhora idosa, de 78 anos, não tem para onde ir e que tem uma reforma pequena, que é a reforma do marido”, lamenta a amiga da viúva.
Desde essa profundidade, a mulher despejada passa junto à vivenda e é muitas vezes abordada por outros moradores de Fratel que também acham que o processo foi mal transportado, garante Júlia.
A venda do imóvel rendeu 28 milénio euros, a antiga inclina recebeu 11 milénio e os restantes 17 milénio serviram para saldar a dívida. Ainda hoje não se conforma com um valor tão ressaltado e garante que a única coisa que ficou por remunerar foi o maldito colchão da mana.
Rita Garcia Pereira explica que o “colchão terá custado 1.500 euros, mas depois de juros, de custas de processo, de agentes de realização, entre outros, quando chegou à temporada da venda, seguramente, a dívida já ia num montante infinitamente superior”.
“Fiquei sozinha e tenho lastimado muito, sofrido muito, muito. Não libido a ninguém o que tenho sofrido. Cá mesmo agora, eu pranto sozinho por perder a minha vivenda. Foram os últimos momentos que eu passei com o meu marido.”
Se tem qualquer problema que também não consegue resolver, conte-nos a sua história para o e-mail aconteceaosmelhores@tvi.pt
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